domingo, 27 de novembro de 2011

Adenda ao post anterior

Como já há algum tempo disse, no UK, uma vez que só existe uma forma para a segunda pessoa do singular - o "you" -, ninguém faz distinção entre tratamento coloquial - o "você" - ou familiar - o "tu". Aqui é tudo "you". Seja para a minha equipa, seja com as chefias, seja com os utentes, seja com pessoas mais novas ou mais velhas, só há uma forma de os tratar: "you".

A mim, se não for "you",  tratam-me por "André" (pelo menos aqueles que conseguem pronunciar o nome. Os outros optam por Andrea, Andreas, Andray, Andria...). Isto é válido desde o elemento mais novo da equipa, até ao mais afastado dos meus chefes - tudo me chama André. E não creio que se trate de uma questão de idade, pois já trabalhei com farmacêuticos mais velhos (40's, 50's) e nenhum era tratado por Mr.Isto ou Mrs.Aquilo. Eram simplesmente chamados por toda a gente de Corinne, George ou Ann (o que no fundo faz sentido... pois é o nome deles. Estranho era se os chamassem de Xô Vitor). De resto, eu próprio trato-os todos pelo primeiro nome ou por "you". Apenas os utentes são tratados por Mr, Mrs ou Miss. Sendo que eles próprios me tratam apenas por André.

Esta questão veio-me à cabeça, na sexta-feira, depois de uma reunião com uma chefe bem acima de mim que trato simplesmente por "Vanessa" e enquanto, passados dez minutos, um utente se dirigia a mim, chamando me simplesmente André. E eu pensava no quanto é irónico que, no país onde a minha profissão mais é valorizada, as pessoas se tratem de uma forma tão directa, sem formalismos bacocos de "doutor" para aqui e "doutor" para ali e sem precisarem desses formalismos para estabelecer relações respeitosas.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sinais dos tempos


Por força da existência do blog e graças, também, à ida há uns meses à FFUC, recebo, amiúde, no mail, mensagens de colegas que procuram saber como é a experiência de um farmacêutico no UK e, nalguns casos, manifestando interesse em também vir. Neste momento, como lhes tenho dito, a facilidade em vir, não está como já esteve. Conheço um caso de uma emigrante recente mas, sem dúvida, que a vinda está muito complicada. Mas não é sobre isso que quero escrever.

O que me choca (é esta a palavra certa) são os testemunhos que me vão chegando. Os testemunhos de colegas que investiram imenso numa formação qualificada, que se dedicam ao que fazem e que se vêem, por um lado, numa carreira limitada e desmotivante (porque o papel do farmacêutico de oficina, em Portugal, é isso mesmo: limitado); e por outro que são agora vítimas de cortes de direitos, ordenados e regalias, que roçam a exploração.  A estes relatos, juntam-se as notícias que leio sobre o estado geral das coisas em Portugal e, muito particularmente, o estado da Farmácia (com a recente guerra aberta entre médicos e farnacêuticos, da qual nem uma Ordem nem a outra saem bem vistas).

E perguntam-me muitas vezes: mas o que é que é assim tão diferente, aí? Bom... a resposta a esta pergunta dava um bom livro. Mas se tivesse que o resumir num parágrafo diria que aqui trabalho em parceria com médicos/enfermeiros/outros profissionais de saúde/os próprios utentes e sou parte de um Sistema de Saúde onde ninguém precisa de se achar superior a ninguém e onde todos trabalham em conjunto, com vista ao que realmente interessa: a qualidade do serviço prestado aos utentes.

Para além de todo o respeito social que aqui há pela profissão, para além de toda a responsabilidade que está no que faço, para além de toda a pressão a que estou sujeito, para além do muito mais dinheiro que aqui ganho, para além de toda a qualidade de serviços que as farmácias colocam ao serviço dos utentes, para além de todas as funções de gestão que tenho; se tivesse que resumir porque é tão diferente o que faço, é no parágrafo anterior que o resumo está.

Ainda no outro dia, achei que uma dada dosagem de antibiótico era alta para a idade de uma criança. Liguei ao médico. Estava ocupado (também se fartam de trabalhar aqui). Ligou-me passados dez minutos e explicou a razão da dosagem como sendo um caso específico previsto no BNF. Pedi desculpa por lhe ter interrompido o trabalho ao que ele me responde: "Não. Não. Você não tem que pedir desculpa. Você tem é que me interromper sempre que algo lhe chamar a atenção. Nós gostamos de saber que podemos contar convosco como uma "rede de segurança". Dá para perceber a ideia, certo? Em Portugal, não só não agradecia, como não dava possibilidade de qualquer discussão, como levava a mal eu ter ligado. Isto se chegasse sequer a telefonar-me de volta. Aqui também já deve ter sido assim, mas desde que um tal de Dr. Harold Shipman se lembrou de matar mais de 200 pacientes, criou-se um sistema integrado de que todos (do médico ao utente) fazem parte e onde todos controlam o trabalho de todos.

A juntar a estas diferenças, todas as notícias que chegam de Portugal (do estado das coisas em geral e da minha profissão em particular) deixam-me triste. Principalmente, conhecendo o potencial do país, dos portugueses e dos meus colegas farmacêuticos em especial, e comparando com os ingleses que vejo não terêm nada a mais que nós. Estou cada vez mais seguro do timming e acerto da decisão que tomámos ao vir, e feliz pela forma como ambos nos impusémos e como as coisas nos correm, mas fico muito triste pelo meu país e pela forma como esta geração está a ter que se voltar para o estrangeiro para ver o investimento que fez na sua formação, reconhecido e valorizado. 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Kendal Road 2011/2012

Foi-me chamado à atenção que o site do Kendal Road Old Boys, este ano, não tem sido actualizado. Assim sendo, e mais para registo futuro do que por ser assunto de especial interesse, aqui fica um resumo da época até à data.
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Como já disse, estamos numa divisão acima daquela que disputávamos no ano passado. A qualidade das equipas é ligeiramente melhor, embora ainda bem abaixo, por exemplo, da Divisão de Honra do distrital de Coimbra.
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O Kendal Road vai fazendo pela vida: muitos empates, duas ou três vitórias e duas derrotas. Um início cheio de empates, depois a primeira derrota e três vitórias seguidas que nos colaram aos lugares de subida. Nas últimas duas semanas, um empate e uma derrota contra equipas do fundo da tabela acabam por nos colocar no lugar justo para a nossa qualidade: o meio da tabela. Na Taça da Liga estamos nas meias-finais e na Taça do Condado estamos nos quartos de final.
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Em resumo, não creio que vamos passar por sobressaltos de nos vermos envolvidos na luta pela manutenção mas acho que também não temos qualidade para olhar para os lugares de subida. Basicamente, defendemos muito mal (faltam os princípios mais básicos), não temos treinador e precisávamos para esta divisão de um guarda-redes com bracinhos, um lateral, um ou dois centrais e um ala. Não precisavam de ser nada de especial. Só cumprir os mínimos.
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Pessoalmente, não me queixo. Tenho jogado sempre, corro 90 minutos e não noto que, para este nivel, me falte "o pedal". Corro, salto, passo, remato, dou umas porradas, levo outras, mando uns berros, comemoro uns golos e, principalmente, não me chateio com ninguém. Tenho jogado que me farto e já quase todas as equipas do condado conhecem ou ouviram falar do "portuguese" dos Kendal. Na conta pessoal, levo 4 ou 5 golos. Todos de cabeça.
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Mais importante ainda, a boa disposição no balneário do Kendal Road continua a mesma de sempre. Ainda esta semana perdemos, em casa, com uma equipa que não lembra a ninguém e, no final, lá estava a malta a dançar e a cantar como sempre. É Sunday League. O espírito é mesmo esse.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Paulinho, o carro é muita bonito

Foi longa a busca mas penso que se chegou a bom porto (não confundir com aquela equipa que empatou 2-1, em Nicósia).
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Os preços dos carros no UK, novos e usados, são incomparavelmente inferiores aos praticados em Portugal. Como tal, tendo em conta o que pretendia gastar, encontrei vários espécimes que me satisfaziam.
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No final, a decisão pendeu entre o carro que acabei por comprar e um Mercedes C320 SE, de 2003, com 38000 milhas. Acabei por deixar este último cair pois além de significar um investimento de mais £1500, significava mais £150/£200 de seguro por ano e mais £300 de imposto por ano, por um carro com volante à direita - ou seja, que servirá apenas para usar enquanto estiver no UK (seja lá isso o que for). Era um carro melhor? Era. Muito. Era mais seguro, mais confortável? Sim. Mas não é o tipo de investimento que me move. Não é num carro que penso quando aceito mais horas-extra ou peço mais trabalho.
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Quanto à escolha, acabei por me manter fiel ao que tenho tido desde que compro carros. Tinha um Astra em Portugal, comprei um Astra quando cheguei e agora fiz o upgrade para outro Astra. Registo de 2004, 50000 milhas de experiência, bom aspecto, seguro q.b., muuuuito mais confortável do que o que tenho andado a conduzir e muito maneirinho no que respeita a seguro e imposto. No final: £ 3200.
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Estou satisfeito. Agora só estou mortinho para que chegue sábado para o ir pòr a lavar. Principalmente por dentro: o meu carro pode andar todo porco por fora, mas por dentro, Santa Paciência, tem que andar "no capricho".
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Só hoje me lembrei que não tinha fotos do velhinho Astra. Tive que tirar esta à pressa já depois de o ter vendido.
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É este, então, o novo Astra cá de casa.
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P.S. - Tenho uma teima com a Vanessa e gostava de ouvir vozes imparciais para desempatar. Eu, à segunda vez que olhei para o carro reparei de imediato numa particularidade da matrícula. Algo comum aqui no UK. Ela diz que por eu ter sempre a cabeça condicionada por uma coisa, acabo por ver particularidades destas onde não as há. Por favor, alguiém repara em alguma coisa na matrícula?

sábado, 12 de novembro de 2011

Estórias V - Pneus

A história de andar à procura de carro, lembra-me uma grande "estória".

Corriam os últimos meses do ano de 2007. Era altura de levar o meu carro à inspecção e o meu pai ficou de o levar a um mecânico amigo para ver se tinha algum problema. Entreguei-lhe o carro e fiquei com o dele. No dia seguinte, estava a acabar o treino, aparece-me o meu pai, no Bolão, com cara de poucos amigos.

"Então? Está tudo bem?" - perguntei. 
O homem só não me bateu: "Está tudo bem? Está tudo bem? Tu sabes como é que tinhas os pneus do carro?? O mecânico levantou-o e até se assustou. Até os arames se vêem! Tens noção do que isso quer dizer?"
"Presumo, agora, que seja mau."
"Mau? Tu és um inconsciente."

Não muito convencido de que toda a gente soubesse da questão, cheguei a casa e perguntei ao Auto e ao Pardal: "Ouçam lá, vocês sabem que se devem trocar os pneus do carro, de vez em quando?"  
"Óbvio. Porquê?"
"Epá, é que o meu carro fez mais de noventa mil quilómetros e só agora, por ter ido ao mecânico, é que os vou trocar. E o meu pai fartou-se de me chatear a cabeça."
Posso dizer que ainda hoje sou gozado por causa disto.

E agora a cereja: estávamos em 2007. Eu vivia em Coimbra, trabalhava em Figueiró dos Vinhos e treinava os juvenis da Académica. Fazia 140 quilómetros todos os dias. De três em três semanas, com os serviços na farmácia, às sextas-feiras ia e vinha duas vezes, com passagem pelo Luso. Eram 300 quilómetros num dia. E ao fim de semana ainda ia ao Porto ter com a Vanessa.

De facto o carro chiava um bocado nas curvas. Mas eu pensava: "Está a chiar, está a aderir". Por vezes penso que a inteligência me foi toda para os pés... 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Estamos bem.

Não há novidades. Estamos bem.

Na próxima semana haverá novidades quanto a carro. Entretanto, procurei numas sucatas e tenho uma proposta de £140.00 pelo velho Astra. De certeza que não há ninguém por aí que queira um bólide, com problemas, a um preço maneirinho? Provavelmente só terá uma semana para se chegar à frente.

Ah... e que os amigos do Dzeko não nos tramem, sábado, no batatal de Zenica 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O velhinho Vauxhall está a dar o berro

Há já algum tempo que ando a sondar o mercado para ver se arranjo um carro novo. A principal razão é uma questão de ego: já me custa guiar todos os dias um carro com o volante torto, a embraiagem que faz barulho, um ou dois pneus furados, com rádio que só funciona se lhe ligar o iPhone, em que os esguichos não trabalham e com dois ou três amassos de fora. Além disso trabalho bastante, ganho razoavelmente e poupo muito do que ganho... Porra!  Não ache que para ser um gajo humilde tenha de andar para sempre no carro mais velho da cidade!

Depois há também a questão da segurança e do conforto (já não existe, em 2011, andar num carro sem direcção assitida).

Coincidência das coincidências, desde que cheguei de Portugal, há uma semana, o carro anda a engasgar-se e às vezes não pega. Levei-o ao mecânico para ver isso, trocar os pneus e fazer a inspecção anual mas disse ao homem para me dizer quanto era o arranjo antes de mexer no carro. A resposta chegou hoje: £200. Não compensa para o carro que é e para o mercado de carro usados que existe no UK.

Vou andar com ele até ao fim do mês, enquanto procuro um novo e depois, das duas, uma, ou o vendo ao local onde comprar outro, ou o mecânico fica-me com ele pela fantástica quantia de £50 mais todas as burocracias que a venda envolva. Para já é a melhor oferta.